“Professores já utilizam ferramenta para melhor explicar episódios históricos e as mudanças na linguagem do brasileiro”, diz matéria de Eduardo Vanini publicada em 19/08, em O Globo. O texto refere-se à disponibilização pelo próprio jornal de seu acervo completo.
Por enquanto, a consulta pode ser feita gratuitamente. Segundo o periódico, o internauta poderá:
"...navegar pelas edições do jornal desde sua fundação. E consultar tanto as páginas quanto as matérias ou artigos, que foram digitalizados um a um. No total, são mais de 11 milhões de documentos, entre páginas e artigos".
Muitos poderiam achar que a ideia pode se virar contra o jornalão. Afinal, ficaria facilitado o acesso às posições políticas conservadoras que o diário carioca defendeu em vários momentos decisivos da história do País.
Um exemplo clássico é a postura que o Globo adotou no golpe militar de 31 de março de 1964. Em 02 de abril, o jornal publicou o editorial “Ressurge a Democracia!”. Se o título já não fosse explícito o suficiente, alguns trechos confirmam o apoio ao ato ditatorial:
"Vive a nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial à democracia, a lei, a ordem. (...) Mais uma vez o povo brasileiro foi socorrido pela Providência Divina, que lhe permitiu superar a grave crise, sem maiores sofrimentos e luto. Sejamos dignos de tão grande favor".
Logo em seguida, em 9 de abril de 1964, a ditadura baixava o Ato Institucional no 1. A medida estabelecia eleições indiretas para Presidente da República, nomeando o general Castelo Branco por um colégio eleitoral. Também foram cassados mandatos parlamentares e direitos políticos.
Na manhã seguinte, a manchete do jornal de Roberto Marinho dizia: “Cassados os mandatos de 40 parlamentares e suspensos direitos políticos de 58 pessoas”. Apesar disso, um trecho do editorial afirmava:
"Temos fé em que sob a direção do General Castelo Branco, a Nação enfrentará, unida, as dificuldades que a afligem e que afetam especialmente as massas trabalhadoras, para assim retomar o seu lugar no mundo democrático".
Em 27 de outubro de 1962, foi editado o Ato Institucional no 2, que extinguiu os partidos políticos e estabeleceu um sistema bipartidário. De um lado a Aliança Renovadora Nacional (ARENA), que representava o regime, e de outro o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), em que uma oposição controlada podia se organizar.
O decreto também permitia ao presidente declarar Estado de Sítio, sem a prévia aprovação do Congresso. Entre outras medidas, funcionários públicos perdiam seus direitos e poderiam ser demitidos por ordem presidencial.
Em relação à medida, o editorial de O Globo publicado no dia seguinte dizia: “...o Ato Institucional no 2 contém em seus artigos preceitos que realmente atendem aos interesses do País e da administração pública...”.
Estes são somente alguns exemplos do comprometimento do jornal da família Marinho com o nascimento de um dos períodos mais tenebrosos de nossa história.
Como estes houve muito outros que poderiam manchar a reputação do diário. Mas certamente, seus proprietários contam com poder de monopólio que construíram durante décadas. Procuram tornar os episódios mais vergonhosos menos visíveis em meio à torrente de “11 milhões de documentos” disponíveis. Também se beneficiam da amnésia política que ajudaram a espalhar e contam com a cumplicidade de autoridades e lideranças que até anteontem os acusavam de ser inimigos da democracia.
Cabe a nós, da imprensa alternativa de esquerda e militantes sociais em geral, atrapalhar o máximo possível esses planos.
30 de ago. de 2013
24 de ago. de 2013
O tempo que a grande mídia nos rouba
Muitos comemoram o papel das mídias alternativas nas manifestações populares iniciadas em junho. Não deixa de ser justo, mas é sempre bom temperar o otimismo do entusiasmo com o pessimismo frio dos números.
"Brasileiro passa muito tempo longe dos livros" diz o título da matéria de Cassia Almeida para o Globo, publicada em 09/08. A reportagem trata de pesquisa recentemente divulgada pelo IBGE, que constatou que a leitura ocupa só 6 minutos do dia dos brasileiros, em média.
Foram ouvidas mais de 5 mil pessoas com 10 anos de idade ou mais. O levantamento limitou-se a quatro estados (Pará, São Paulo, Rio Grande do Sul e Pernambuco) e o Distrito Federal. Mas dificilmente a realidade é outra no restante do País.
Mais grave é o que dizem outros números da mesma pesquisa. Enquanto a leitura fica com aquela meia dúzia de minutos, a TV recebe 2h35m de atenção. Também mostram que mais da metade dos entrevistados levantam da cama às 6h45m da manhã. Daí em diante, continua a reportagem, o trabalho domina o dia da maioria das pessoas. Tempo livre mesmo, somente a partir das 21h, "quando o sono vem".
Estes números podem nos dizer algo do papel da grande mídia no sistema de dominação brasileiro. A principal fonte de informação continua a ser a televisão, que, como sabemos, está nas mãos dos monopólios que defendem poderosos interesses econômicos.
As longas jornadas de trabalho, mais as muitas horas de deslocamento em transportes públicos indecentes, roubam tempo não só do descanso, do lazer e da educação. Também inviabilizam qualquer atividade associativa e participação política para a grande maioria da população.
Não por acaso o Jornal Nacional atrasou seu início para as 21h, há alguns anos. O objetivo é continuar bombardeando cérebros cansados e entorpecidos com suas informações deformadas e tendenciosas. Depois, já devidamente dopados, os telespectadores são entregues às imagens e sensações da novela até que durmam.
Uma situação como esta mostra que ainda é muito grande o poder dos monopólios da comunicação. O papel das redes virtuais e das mídias alternativas tem sido muito importante nas atuais mobilizações populares. Mas sem a democratização das comunicações, o tempo da maioria de nós continuará sob controle da ditadura da grande mídia.
"Brasileiro passa muito tempo longe dos livros" diz o título da matéria de Cassia Almeida para o Globo, publicada em 09/08. A reportagem trata de pesquisa recentemente divulgada pelo IBGE, que constatou que a leitura ocupa só 6 minutos do dia dos brasileiros, em média.
Foram ouvidas mais de 5 mil pessoas com 10 anos de idade ou mais. O levantamento limitou-se a quatro estados (Pará, São Paulo, Rio Grande do Sul e Pernambuco) e o Distrito Federal. Mas dificilmente a realidade é outra no restante do País.
Mais grave é o que dizem outros números da mesma pesquisa. Enquanto a leitura fica com aquela meia dúzia de minutos, a TV recebe 2h35m de atenção. Também mostram que mais da metade dos entrevistados levantam da cama às 6h45m da manhã. Daí em diante, continua a reportagem, o trabalho domina o dia da maioria das pessoas. Tempo livre mesmo, somente a partir das 21h, "quando o sono vem".
Estes números podem nos dizer algo do papel da grande mídia no sistema de dominação brasileiro. A principal fonte de informação continua a ser a televisão, que, como sabemos, está nas mãos dos monopólios que defendem poderosos interesses econômicos.
As longas jornadas de trabalho, mais as muitas horas de deslocamento em transportes públicos indecentes, roubam tempo não só do descanso, do lazer e da educação. Também inviabilizam qualquer atividade associativa e participação política para a grande maioria da população.
Não por acaso o Jornal Nacional atrasou seu início para as 21h, há alguns anos. O objetivo é continuar bombardeando cérebros cansados e entorpecidos com suas informações deformadas e tendenciosas. Depois, já devidamente dopados, os telespectadores são entregues às imagens e sensações da novela até que durmam.
Uma situação como esta mostra que ainda é muito grande o poder dos monopólios da comunicação. O papel das redes virtuais e das mídias alternativas tem sido muito importante nas atuais mobilizações populares. Mas sem a democratização das comunicações, o tempo da maioria de nós continuará sob controle da ditadura da grande mídia.
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17 de ago. de 2013
Os ninjas e a luta anticapitalista
A atuação do coletivo Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) está no centro dos debates sobre jornalismo alternativo. Seus integrantes se destacaram no acompanhamento das manifestações populares que começaram em junho passado.
A cobertura do coletivo foi fundamental na denúncia da violência policial e na divulgação das principais pautas dos movimentos. Furou o bloqueio dos monopólios da comunicação e mostrou compromisso com a informação e com as causas das manifestações.
Mas somente aos poucos vai ficando clara qual é a proposta dos ninjas. A presença de dois de seus membros no programa Roda Viva de 05/08, na TV Cultura, ajudou a esclarecer alguns pontos. Diante de jornalistas da grande imprensa, Bruno Torturra e Pablo Capilé deram uma demonstração de segurança quanto ao que fazem e no que acreditam. Enfrentaram com tranquilidade uma bancada que, em grande sua maioria, vacilava entre a hostilidade ignorante e a ignorância hostil.
Mas não deveríamos acreditar que a grande mídia observará tudo isso tranquilamente ou com temor. E não se trata apenas de ataques ao coletivo. Calúnias e insinuações quanto a quem está por trás de seus membros. Mais do que isso, uma proposta como a apresentada pelos ninjas, apesar de sua novidade, corre o risco de ser engolida pelo mercado.
Foi grande a pressão para saber quem banca o coletivo. Os jornalistas presentes sabem muito bem que quem paga a banda, escolhe a música. Torturra e Capilé não se intimidaram. Afirmaram que a Mídia Ninja faz parte do coletivo Fora do Eixo. Trata-se de uma rede solidária de coletivos distribuídos por todo o país e mantida por recursos públicos, obtidos por edital, afirmaram os entrevistados. Sua dinâmica colaborativa e horizontal permitiria potencializar o uso desses recursos. Uma espécie de moeda própria circularia pela rede, viabilizando shows e eventos artísticos, artistas e trabalhadores culturais.
Há muita polêmica cercando esse modo de funcionamento do Fora do Eixo. Principalmente, nas redes virtuais. Muitos apoiam e elogiam a iniciativa, como inovadora e comprometida com a produção cultural alternativa. Mas também há acusações de centralismo, falta de democracia, oportunismo, relações privilegiadas com governos, utilização pouco transparente dos recursos etc.
Mas digamos que as críticas não procedam. Consideremos que o coletivo realmente funcione como seus divulgadores afirmam. Ainda assim, é preciso considerar uma série de questões. A começar pela relação com o mercado.
Para ficar apenas na questão da Mídia Ninja, no programa Roda Viva Torturra deixou muito claro quais são os objetivos perseguidos pelos ninjas. Disse que o ideal do coletivo é tentar criar uma rede financeiramente viável que dê conta não só da demanda por informação de qualidade, mas oferecer oportunidade de trabalho a jornalistas que não encontram vagas no mercado ou que estão sendo despedidos das grandes redações. Portanto, trata-se de uma aposta de mercado, ainda que na contramão dos monopólios que o dominam e se apresente sob a forma de um empreendimento solidário.
Ocorre que não há horizontalidade profissional e princípios colaborativos que possam fazer frente às leis da concorrência capitalista, cada vez mais selvagens. A não ser que a proposta seja aderir a elas. E nesse caso seria bom lembrar uma análise de Rosa Luxemburgo sobre os limites da produção cooperativada. O trecho é de "Reforma ou Revolução", uma das maiores obras da grande revolucionária:
... na economia capitalista a troca domina a produção; por causa da concorrência exige, para que a empresa possa sobreviver, uma impiedosa exploração da força do trabalho, quer dizer. a dominação completa do processo de produção pelos interesses capitalistas. (...) Daí uma cooperativa de produção ter a necessidade, contraditória para os operários, de se governar a si própria com toda a autoridade absoluta necessária e de os seus elementos desempenharem entre si o papel de empresários capitalistas. Dessa contradição morre a cooperativa de produção, ou tornando-se uma empresa capitalista ou, no caso em que os interesses dos operários são mais fortes, se dissolvendo. Estes são os fatos.
É certo que os representantes da Mídia Ninja não concordariam com tal argumentação. Pelo que disseram no programa da TV Cultura, vivemos num momento "pós-industrial", que já teria superado as contradições a que se refere Rosa. Além disso, a iniciativa que propõem não poderia ser caracterizada como uma cooperativa de produção, mas de serviços criativos.
No entanto, uma coisa é inegável. Os lucros movimentados pelo setor de comunicações e produtos culturais são cada vez mais astronômicos. Queiram ou não os ninjas, o setor obedece à lógica da rentabilidade acima de tudo, chamemos ou não isso de capitalismo industrial, de capital material ou imaterial, de setor de transformação ou de serviços. E pequenas iniciativas criativas e inovadoras não são necessariamente contraditórias com essa lógica.
Novamente recorremos a Rosa e ao seu texto, publicado mais de um século atrás. Ainda em "Reforma ou Revolução", ela diz:
No curso geral do desenvolvimento capitalista, os pequenos capitais desempenham o papel, na teoria marxista, de pioneiros da revolução técnica, e isso de maneira dupla: em primeiro lugar no respeitante a novos métodos de produção nos setores antigos fortemente enraizados, depois pela criação de novos setores de produção inexplorados pelos grandes capitais.
Como a comprovar essa tese, basta observarmos os gigantes empresariais que nasceram em garagens, sótãos e porões, como Microsoft, Apple, HP, Google e Youtube. Até pouco tempo atrás, considerados instrumentos de inovação criativa e democratização da informação. Recentemente, desmascarados como colaboradores do sistema de espionagem estadunidense. E agarram-se a suas posições monopolistas como os velhos tubarões do capitalismo.
De qualquer maneira, vivemos em tempos de ditadura midiática. E sob uma ditadura, as forças que a ela resistem devem buscar a maior unidade possível. Os ninjas são muito bem vindos às mobilizações populares da luta anticapitalista. Anticapitalista!
A cobertura do coletivo foi fundamental na denúncia da violência policial e na divulgação das principais pautas dos movimentos. Furou o bloqueio dos monopólios da comunicação e mostrou compromisso com a informação e com as causas das manifestações.
Mas somente aos poucos vai ficando clara qual é a proposta dos ninjas. A presença de dois de seus membros no programa Roda Viva de 05/08, na TV Cultura, ajudou a esclarecer alguns pontos. Diante de jornalistas da grande imprensa, Bruno Torturra e Pablo Capilé deram uma demonstração de segurança quanto ao que fazem e no que acreditam. Enfrentaram com tranquilidade uma bancada que, em grande sua maioria, vacilava entre a hostilidade ignorante e a ignorância hostil.
Mas não deveríamos acreditar que a grande mídia observará tudo isso tranquilamente ou com temor. E não se trata apenas de ataques ao coletivo. Calúnias e insinuações quanto a quem está por trás de seus membros. Mais do que isso, uma proposta como a apresentada pelos ninjas, apesar de sua novidade, corre o risco de ser engolida pelo mercado.
Foi grande a pressão para saber quem banca o coletivo. Os jornalistas presentes sabem muito bem que quem paga a banda, escolhe a música. Torturra e Capilé não se intimidaram. Afirmaram que a Mídia Ninja faz parte do coletivo Fora do Eixo. Trata-se de uma rede solidária de coletivos distribuídos por todo o país e mantida por recursos públicos, obtidos por edital, afirmaram os entrevistados. Sua dinâmica colaborativa e horizontal permitiria potencializar o uso desses recursos. Uma espécie de moeda própria circularia pela rede, viabilizando shows e eventos artísticos, artistas e trabalhadores culturais.
Há muita polêmica cercando esse modo de funcionamento do Fora do Eixo. Principalmente, nas redes virtuais. Muitos apoiam e elogiam a iniciativa, como inovadora e comprometida com a produção cultural alternativa. Mas também há acusações de centralismo, falta de democracia, oportunismo, relações privilegiadas com governos, utilização pouco transparente dos recursos etc.
Mas digamos que as críticas não procedam. Consideremos que o coletivo realmente funcione como seus divulgadores afirmam. Ainda assim, é preciso considerar uma série de questões. A começar pela relação com o mercado.
Para ficar apenas na questão da Mídia Ninja, no programa Roda Viva Torturra deixou muito claro quais são os objetivos perseguidos pelos ninjas. Disse que o ideal do coletivo é tentar criar uma rede financeiramente viável que dê conta não só da demanda por informação de qualidade, mas oferecer oportunidade de trabalho a jornalistas que não encontram vagas no mercado ou que estão sendo despedidos das grandes redações. Portanto, trata-se de uma aposta de mercado, ainda que na contramão dos monopólios que o dominam e se apresente sob a forma de um empreendimento solidário.
Ocorre que não há horizontalidade profissional e princípios colaborativos que possam fazer frente às leis da concorrência capitalista, cada vez mais selvagens. A não ser que a proposta seja aderir a elas. E nesse caso seria bom lembrar uma análise de Rosa Luxemburgo sobre os limites da produção cooperativada. O trecho é de "Reforma ou Revolução", uma das maiores obras da grande revolucionária:
É certo que os representantes da Mídia Ninja não concordariam com tal argumentação. Pelo que disseram no programa da TV Cultura, vivemos num momento "pós-industrial", que já teria superado as contradições a que se refere Rosa. Além disso, a iniciativa que propõem não poderia ser caracterizada como uma cooperativa de produção, mas de serviços criativos.
No entanto, uma coisa é inegável. Os lucros movimentados pelo setor de comunicações e produtos culturais são cada vez mais astronômicos. Queiram ou não os ninjas, o setor obedece à lógica da rentabilidade acima de tudo, chamemos ou não isso de capitalismo industrial, de capital material ou imaterial, de setor de transformação ou de serviços. E pequenas iniciativas criativas e inovadoras não são necessariamente contraditórias com essa lógica.
Novamente recorremos a Rosa e ao seu texto, publicado mais de um século atrás. Ainda em "Reforma ou Revolução", ela diz:
Como a comprovar essa tese, basta observarmos os gigantes empresariais que nasceram em garagens, sótãos e porões, como Microsoft, Apple, HP, Google e Youtube. Até pouco tempo atrás, considerados instrumentos de inovação criativa e democratização da informação. Recentemente, desmascarados como colaboradores do sistema de espionagem estadunidense. E agarram-se a suas posições monopolistas como os velhos tubarões do capitalismo.
De qualquer maneira, vivemos em tempos de ditadura midiática. E sob uma ditadura, as forças que a ela resistem devem buscar a maior unidade possível. Os ninjas são muito bem vindos às mobilizações populares da luta anticapitalista. Anticapitalista!
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9 de ago. de 2013
Reforçar as guerrilhas da comunicação
Entre as muitas lições das manifestações populares que vêm chacoalhando o País, está a de que vivemos uma sob uma verdadeira ditadura da grande mídia.
O jornalismo empresarial faz uma cobertura dos acontecimentos que é tendenciosa, criminaliza os movimentos sociais, omite, mente, esconde, distorce. Causa na esfera da informação estrago equivalente ao provocado por balas de borracha, spray de pimenta e gás lacrimogêneo nas ruas.
Um exemplo é a cobertura jornalística dos protestos que acabaram em depredação de lojas e bancos no Leblon. A gritaria que a grande imprensa fez só é comparável com o silêncio com que tratou a morte de dez pessoas na favela da Maré, vinte dias antes. O grande patrimônio de uma dúzia de pessoas colocado acima das vidas de milhares.
Não estamos vivendo sob uma ditadura política. Mas não se pode dizer o mesmo quanto ao direito à informação, que está soterrado sob o peso de grandes monopólios. Felizmente do nosso lado, temos a cobertura feita por centenas de jornalistas alternativos com suas microcâmeras e celulares. Desmascarando a mídia empresarial em blogs, redes virtuais, rádios e jornais comunitários e sindicais. No asfalto e nas comunidades.
Essas mulheres e homens heroicos e comprometidos com as lutas populares desempenham um papel fundamental. Um exemplo claro foi o caso do molotov atirado em policiais nas manifestações do dia 22/07. Foram as imagens da mídia alternativa que mostraram que o artefato foi atirado por um policial infiltrado. É isso que torna essa verdadeira guerrilha da informação tão odiada pelas forças da repressão e governantes de plantão.
Sob uma ditadura política, a luta popular aberta contra os poderosos é desigual e dificilmente escapa à derrota. Daí, a necessidade de ações pequenas, mas eficientes e que ajudem a acumular forças para um momento favorável.
Do mesmo modo, enquanto durar a ditadura midiática, teremos que nos limitar às escaramuças pontuais e estratégicas. Acumular forças e reunir condições para travar o grande combate. Mas este só será vitorioso se deixarmos para trás aqueles que vacilam entre a covardia e a cumplicidade em relação aos poderosos da mídia.
O apoio a governos progressistas, ou que pretendem sê-lo, é possível. Muitas vezes, pode ser necessário. A pressão sobre parlamentares, também. Mas é imprescindível evitar a dependência em relação aos "poderes constituídos", sempre embaraçados nas cordas que atam o Estado ao grande capital. Nossas principais lutas têm que ser travadas nas ruas, com câmeras, gravadores e muita disposição.
O jornalismo empresarial faz uma cobertura dos acontecimentos que é tendenciosa, criminaliza os movimentos sociais, omite, mente, esconde, distorce. Causa na esfera da informação estrago equivalente ao provocado por balas de borracha, spray de pimenta e gás lacrimogêneo nas ruas.
Um exemplo é a cobertura jornalística dos protestos que acabaram em depredação de lojas e bancos no Leblon. A gritaria que a grande imprensa fez só é comparável com o silêncio com que tratou a morte de dez pessoas na favela da Maré, vinte dias antes. O grande patrimônio de uma dúzia de pessoas colocado acima das vidas de milhares.
Não estamos vivendo sob uma ditadura política. Mas não se pode dizer o mesmo quanto ao direito à informação, que está soterrado sob o peso de grandes monopólios. Felizmente do nosso lado, temos a cobertura feita por centenas de jornalistas alternativos com suas microcâmeras e celulares. Desmascarando a mídia empresarial em blogs, redes virtuais, rádios e jornais comunitários e sindicais. No asfalto e nas comunidades.
Essas mulheres e homens heroicos e comprometidos com as lutas populares desempenham um papel fundamental. Um exemplo claro foi o caso do molotov atirado em policiais nas manifestações do dia 22/07. Foram as imagens da mídia alternativa que mostraram que o artefato foi atirado por um policial infiltrado. É isso que torna essa verdadeira guerrilha da informação tão odiada pelas forças da repressão e governantes de plantão.
Sob uma ditadura política, a luta popular aberta contra os poderosos é desigual e dificilmente escapa à derrota. Daí, a necessidade de ações pequenas, mas eficientes e que ajudem a acumular forças para um momento favorável.
Do mesmo modo, enquanto durar a ditadura midiática, teremos que nos limitar às escaramuças pontuais e estratégicas. Acumular forças e reunir condições para travar o grande combate. Mas este só será vitorioso se deixarmos para trás aqueles que vacilam entre a covardia e a cumplicidade em relação aos poderosos da mídia.
O apoio a governos progressistas, ou que pretendem sê-lo, é possível. Muitas vezes, pode ser necessário. A pressão sobre parlamentares, também. Mas é imprescindível evitar a dependência em relação aos "poderes constituídos", sempre embaraçados nas cordas que atam o Estado ao grande capital. Nossas principais lutas têm que ser travadas nas ruas, com câmeras, gravadores e muita disposição.
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8 de ago. de 2013
“O Som ao Redor”: a tranquilidade que antecipa a explosão
O filme "O Som ao Redor" está chegando às locadoras. Quem não viu, deve aproveitar a oportunidade. E quem assistiu, tem motivos para repetir a dose.
A produção do cineasta pernambucano Kléber Mendonça Filho tem muitos méritos. Elenco, fotografia, direção, roteiro. Mas é o clima de suspense que prende a atenção. A trama trata basicamente de uma área residencial em um bairro de classe média de Recife. Os integrantes de uma milícia aparecem oferecendo segurança particular aos moradores.
Um idoso que é latifundiário no interior, possui vários imóveis na capital. É o patriarca local, de quem os milicianos conseguem autorização para atuar.
Tudo parece sob controle. Mas a tensão cresce.
Uma jovem dona de casa não consegue dormir por causa dos latidos do cachorro do vizinho. Durante o dia, fuma maconha e se masturba. Um dos netos do patriarca comete furtos em automóveis da vizinhança, desafiando os novos seguranças. Outro neto não sabe o que fazer da vida de conforto material que leva. Um casal de adolescentes se agarra pelos cantos. As empregadas vão e vêm como sombras. Festinhas rolam e automóveis cruzam as pacatas ruas em alta velocidade.
Estes e outros elementos compõem o som que rodeia o conforto do bairro. Rumor incômodo, acumulado por um ódio e sede de vingança só revelados no final do filme. Esse ruído acompanha a história brasileira há séculos, produto da truculência dos que incluem vidas humanas entre os bens de que podem dispor.
Lançado meses antes das manifestações que abalam o País, o filme parecia pressentir alguma coisa. A tranquilidade e a segurança aparentes podem preceder a explosão.
A produção do cineasta pernambucano Kléber Mendonça Filho tem muitos méritos. Elenco, fotografia, direção, roteiro. Mas é o clima de suspense que prende a atenção. A trama trata basicamente de uma área residencial em um bairro de classe média de Recife. Os integrantes de uma milícia aparecem oferecendo segurança particular aos moradores.
Um idoso que é latifundiário no interior, possui vários imóveis na capital. É o patriarca local, de quem os milicianos conseguem autorização para atuar.
Tudo parece sob controle. Mas a tensão cresce.
Uma jovem dona de casa não consegue dormir por causa dos latidos do cachorro do vizinho. Durante o dia, fuma maconha e se masturba. Um dos netos do patriarca comete furtos em automóveis da vizinhança, desafiando os novos seguranças. Outro neto não sabe o que fazer da vida de conforto material que leva. Um casal de adolescentes se agarra pelos cantos. As empregadas vão e vêm como sombras. Festinhas rolam e automóveis cruzam as pacatas ruas em alta velocidade.
Estes e outros elementos compõem o som que rodeia o conforto do bairro. Rumor incômodo, acumulado por um ódio e sede de vingança só revelados no final do filme. Esse ruído acompanha a história brasileira há séculos, produto da truculência dos que incluem vidas humanas entre os bens de que podem dispor.
Lançado meses antes das manifestações que abalam o País, o filme parecia pressentir alguma coisa. A tranquilidade e a segurança aparentes podem preceder a explosão.
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