Entre as muitas lições das manifestações populares que vêm chacoalhando o País, está a de que vivemos uma sob uma verdadeira ditadura da grande mídia.
O jornalismo empresarial faz uma cobertura dos acontecimentos que é tendenciosa, criminaliza os movimentos sociais, omite, mente, esconde, distorce. Causa na esfera da informação estrago equivalente ao provocado por balas de borracha, spray de pimenta e gás lacrimogêneo nas ruas.
Um exemplo é a cobertura jornalística dos protestos que acabaram em depredação de lojas e bancos no Leblon. A gritaria que a grande imprensa fez só é comparável com o silêncio com que tratou a morte de dez pessoas na favela da Maré, vinte dias antes. O grande patrimônio de uma dúzia de pessoas colocado acima das vidas de milhares.
Não estamos vivendo sob uma ditadura política. Mas não se pode dizer o mesmo quanto ao direito à informação, que está soterrado sob o peso de grandes monopólios. Felizmente do nosso lado, temos a cobertura feita por centenas de jornalistas alternativos com suas microcâmeras e celulares. Desmascarando a mídia empresarial em blogs, redes virtuais, rádios e jornais comunitários e sindicais. No asfalto e nas comunidades.
Essas mulheres e homens heroicos e comprometidos com as lutas populares desempenham um papel fundamental. Um exemplo claro foi o caso do molotov atirado em policiais nas manifestações do dia 22/07. Foram as imagens da mídia alternativa que mostraram que o artefato foi atirado por um policial infiltrado. É isso que torna essa verdadeira guerrilha da informação tão odiada pelas forças da repressão e governantes de plantão.
Sob uma ditadura política, a luta popular aberta contra os poderosos é desigual e dificilmente escapa à derrota. Daí, a necessidade de ações pequenas, mas eficientes e que ajudem a acumular forças para um momento favorável.
Do mesmo modo, enquanto durar a ditadura midiática, teremos que nos limitar às escaramuças pontuais e estratégicas. Acumular forças e reunir condições para travar o grande combate. Mas este só será vitorioso se deixarmos para trás aqueles que vacilam entre a covardia e a cumplicidade em relação aos poderosos da mídia.
O apoio a governos progressistas, ou que pretendem sê-lo, é possível. Muitas vezes, pode ser necessário. A pressão sobre parlamentares, também. Mas é imprescindível evitar a dependência em relação aos "poderes constituídos", sempre embaraçados nas cordas que atam o Estado ao grande capital. Nossas principais lutas têm que ser travadas nas ruas, com câmeras, gravadores e muita disposição.
9 de ago. de 2013
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2 comentários:
Excelente matéria. Mas ainda não concluí sobre "não vivemos uma ditadura política". Acho que vivemos sob uma ditadura (não militar) dos grandes interesses capitalistas que, não por acaso, também são os grandes financiadores de campanhas políticas.
A mídia independente vem exercendo papel preponderante na sociedade, desmascarando a mídia capitalista e mostrando a realidade à população. E, exatamente por isso, vem sendo o alvo predileto da truculência policial nos conflitos.
Obrigado, Cláudia. Mas se vivemos sob uma ditadura dos grandes interesses capitalistas, ela é econômica e não política. Abraço
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