“Homem de Ferro 2” é conservador. E não esconde isso. Representa bem a união entre indústria, governo e forças armadas em defesa do mercado.
O novo filme do Homem de Ferro começa com um show. O super-herói aterrissa num palco entre dançarinas bonitas e faz um strip-tease de sua armadura para mostrar-se como empresário sucesso.
Em seu elegante terno, Tony Stark esbanja charme enquanto diz em alto e bom som que é o responsável pela paz americana. Diante de milhares de pessoas afirma que graças a ele o Tio Sam pode beber seu “chá gelado tranquilamente em sua cadeira de balanço”. Afinal, não há ninguém “que seja homem suficiente” para derrotá-lo.
Só a ótima atuação de Robert Downing Jr. salva a cena do completo ridículo. Mas, o que importa é a semelhança de seu discurso com aquele do governo americano após a queda da União Soviética, no início dos anos 1990. A diferença é que Ronald Reagan era um péssimo ator.
Tal semelhança não pode ser coincidência quando se revela que o inimigo mais perigoso do Homem de Ferro é um russo. Trata-se de Ivan Vanko (Mickey Rourke), filho de um cientista que trabalhou para os soviéticos. Vanko é inteligente, mas sua grande força física não tem a sutileza e a elegância do Homem de Ferro.
A diferença entre os dois lembra aquela que existia entre as economias soviética e americana. A primeira arrastava-se sob o peso de um capitalismo administrado pelo Estado. A segunda devia sua agilidade a um Estado empurrado pela rapidez com que o mercado ataca os direitos dos trabalhadores.
No filme, Stark representa a avançada indústria moderna. Alta tecnologia em máquinas e programas de computador combinada com armamento pesado. Tudo a ver com os objetivos do império americano.
No entanto, como típico empresário neoliberal, Stark só aceita usar seu poderio tecnológico como quer e segundo seus critérios. Se isso coincidir com os objetivos da sociedade, tudo bem. Claro que sendo um industrial, tais objetivos só podem estar relacionados aos interesses de quem está no poder. Por isso, ele ridiculariza o senado americano, mas no final mostrará que não se trata de coisa séria.
Mesmo as brigas de Stark com o amigo James Rhodes (Don Cheadle) são coisas de antiga camaradagem. Rhodes é coronel do Exército. A parceria entre eles parece representar o complexo industrial-militar que governa os Estados Unidos. Suas diferenças são facilmente superáveis em nome de objetivos parecidos. Dominar o mundo e lucrar muito com isso.
Justin Hammer, muito bem representado por Sam Rockwell, é apenas o empresário que não entendeu bem o jogo do poder. A apresentação de seu exército robótico na feira de Stark é de arrepiar. Monstros de metal, prontos a matar em qualquer parte do mundo. Mas, é de mau gosto apresentá-los dessa forma. E vai contra a lógica individualista, que precisa de um herói de carne e osso para entusiasmar o povo.
Aviões robôs já andam voando por aí, matando inocentes na Palestina, Iraque, Afeganistão. No entanto, não se deve dar mais destaque a sua tecnologia do que aos supostos objetivos a que servem: livrar o mundo do terrorismo para salvar a humanidade. O diabo é que a humanidade também está na linha de tiro. Hammer é derrotado, como são alguns empresários na cada vez mais selvagem competição capitalista.
No final, o super-herói, o coronel e o senador aparecem posando para fotos. A indústria, o exército e o governo abraçados. Meio a contra gosto, é verdade. Nada que não se revolva com muito dinheiro e mísseis.
O maior vencedor é Stark. A vitória é do mercado, dos valores individuais, do executivo que adora uma farra, mulheres bonitas e carrões. Às vezes, de smoking, às vezes, com um pijama de ferro. É o neoliberalismo, na maior cara-de-pau, mostrando que está muito longe de enferrujar.
10 de mai. de 2010
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2 comentários:
Direto ao ponto. Preciso; irretocável, diria.
Att.,
Karla S. M. Coutinho
Como vc disse, Sergio, só o talento de R. Downing Jr. se salva em mais esse exemplo da transformação do cinema em animação computadorizada. Mauro.
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