O grupo O Levante, do coletivo LUTARMADA acaba de lançar mais um CD. É o hip-hop contra a injustiça social e a exploração. Denunciando a grande mídia como principal arma dos poderosos.
Nos anos 1980, Chuck D, membro do Public Enemy, disse que o rap era uma espécie de CNN da comuna negra. A proposta era a de que os movimentos de resistência construíssem seus próprios canais de comunicação. Mas, fazer isso é também denunciar e combater a mídia dos poderosos. As CNNs e Globos do planeta.
Desde que foi criado, o coletivo LUTARMADA tem sido fiel a este combate. Faz a denúncia da violência policial, do racismo, da exploração capitalista, dos governos e do estado capitalista. Mas, sempre teve a preocupação de colocar a grande mídia na alça de sua mira. Sabe que ela é fundamental para fazer a cabeça da maioria da população. Em especial, dos que têm pouco ou nenhum acesso à informação crítica. Daqueles a quem a própria esquerda tradicional dá pouca ou nenhuma atenção.
O coletivo adotou um nome que faz parte da realidade das comunidades pobres das grandes cidades. O braço armado do Estado e do crime são uma constante na vida delas. Ainda que quase 100% de sua população nada tenham a ver com polícias e bandidos.
Mas, o nome vem acompanhado de símbolos que explicam tudo. O logotipo do coletivo é uma criança negra lendo um livro. A arma que o LUTARMADA utiliza é o microfone. É também o grafite, a dança de rua. É cada vez mais a formação política, a educação para a luta, recuperando as lições das lutas dos povos de todo o mundo. Dando cada vez mais atenção aos corajosos combates do povo brasileiro.
O novo CD não poderia deixar de reafirmar essas preocupações e é coerente com a denúncia do poder da mídia capitalista. A primeira faixa de Estado de direito. Estado de direita é uma sequência de trechos de noticiários da grande mídia. Sempre mostrando a violência cotidiana da polícia contra os pobres, explorados, negros. Violência quase sempre sustentada e apoiada pelos chamados veículos de comunicação. Nada mais do que aparelhos a serviço da ideologia dominante.
Seguem-se outras músicas, como Faça a revolução ou morra lutando, Rimador radical, Combativo e internacionalista. Elas não deixam dúvidas quanto ao compromisso do coletivo com a luta mais radical. Em Abalando as estruturas globais, a denúncia da Globo, suas mentiras, manipulações, truculência cultural, simboliza a crítica a todo ao poderoso aparato midiático. Mas, em várias outras faixas do CD, o alerta quanto ao terrível papel da mídia empresarial é constante.
Ao mesmo tempo, não escapam à metralhadora de O Levante setores da esquerda que acabam fazendo o jogo do inimigo. É o caso da faixa Partidos Comunistas por Apolônio de Carvalho. Nela, a voz do velho e respeitado revolucionário comunista define os PCs de todo mundo como monumentos de autoritarismo e elitismo. Compostos de membros que se relacionam de forma fria e impessoal, entre eles mesmos e com os explorados.
Em Graças ao hip hop, a voz de Gas-PA explica porque o hip-hop faz a cabeça de muitos lutadores negros e explorados. Trata-se de uma opção de classe. Dizendo não ao crime, à religião como fonte de renda, à vaidade alimentada pelo consumismo capitalista. Dizendo sim à resistência contra o Estado. Usando a poesia, a arte, mas também o panfleto, a passeata, manifestações, o apoio às ocupações urbanas e rurais.
É o hip-hop como “salvação” sem alienação. No lugar da arma de fogo, o microfone incendiário, o livro revelador, a poesia libertadora, belas imagens de luta e resistência estampadas nos muros. É o hip-hop classista e de combate do LUTARMADA!
Como toda mídia alternativa, o coletivo precisa de apoio. Como mídia alternativa combativa, o LUTARMADA merece esse apoio ainda mais. Compre o CD. Contatos: o_levante@yahoo.com.br
Clique aqui e ouça uma das músicas do novo CD: Abalando as estruturas globais
29 de jun. de 2010
5 de jun. de 2010
Um Robin Hood bem classe média
No filme de Ridley Scott, o príncipe dos ladrões parece mais um barão de classe média. Talvez, porque roubar dos ricos para dar aos pobres dependa de que ambos continuem a existir.
“Em tempos de tirania e injustiça, quando a lei oprime o povo, o fora-da-lei assume o seu papel na História. Isso aconteceu com a Inglaterra na virada do século 12”. A mensagem que inicia o filme era um dos princípios defendidos pelos burgueses quando surgiram como classe social.
A burguesia atual não gosta de lembrar isso. Em sua maturidade esclerosada prefere esquecer as loucuras da juventude, quando chegou a cortar cabeças coroadas. De qualquer maneira, o princípio refere-se à troca de governos no interior de um Estado de classe, não à extinção do próprio Estado. Este último é o objetivo dos socialistas revolucionários, incluindo os anarquistas. Aquele é o dos que querem manter a exploração de uns sobre os outros, incluindo muitos dos que se dizem socialistas.
No filme estrelado por Russell Crowe, o herói da floresta de Sherwood quase não aparece como o príncipe dos ladrões. Está mais para um barão de classe média. Nem é rei, nem é servo. Só quer um governo justo, não o fim de toda dominação e exploração, base das injustiças cometidas por todo governo.
O filme começa com o retorno de Ricardo Coração de Leão, após 10 anos de ausência. Entre os soldados de sua tropa, está Robin Hood, ainda conhecido como Robin Longstride. Diferente das versões mais conhecidas da história, o rei Ricardo morre logo no início. Durante o assalto a um castelo francês é atingido pela flecha certeira disparada por um cozinheiro. Talvez, uma brincadeira sobre a superioridade gastronômica do inimigo.
Morto o rei, Robin deserta do exército. Pretende cuidar da própria vida. Mas, o destino não deixa. Entre idas e vindas, acaba envolvido no combate a uma conspiração. Um nobre inglês alia-se ao rei da França para conquistar a Inglaterra.
Ao mesmo tempo, conhece Lady Marion (Cate Blanchett). Viúva, ela cuida de sua propriedade sozinha. Passa maus bocados com os impostos reais de um lado e o dízimo da Igreja, do outro. Só falta fazer um discurso sobre o peso da carga tributária. Tudo muito classe média.
Na versão de Scott, o maldoso Xerife de Nottingham fica em segundo plano. O vilão mesmo é Lorde Godfrey (Mark Strong), que colabora com os franceses. Outro vilão é o rei João (Oscar Isaac). Egoísta, maldoso, cheio de ambição e preguiça, ainda tem a péssima idéia de aumentar os impostos para fazer guerra aos franceses. O que deixa os barões furiosos. Querem derrubar o rei. Nem que para isso seja preciso apoiar uma invasão francesa.
São convencidos do contrário por Robin. O inimigo são os franceses, diz ele. Derrotados estes, cuidariam do rei João. E é o que acontece. Em troca de terem livrado o país dos invasores, os barões impõem ao soberano a assinatura de um documento que limita seus poderes. É a famosa Magna Carta, que seria o marco do início da monarquia constitucional inglesa.
Seria mas não foi. João coloca fogo no documento pouco depois de assiná-lo. Compra a maior briga com os barões. Só aí, Robin torna-se o fora-da-lei de que fala a mensagem do início do filme. Veste o capuz (o hood) dos bandoleiros e foge para a floresta.
O fato é que a simples assinatura de um rei nunca garantiu o respeito a direitos plebeus. Na vida real, o rei João não queimou a Magna Carta. Apenas deixou de cumpri-la. Foram necessários mais de quatro séculos até que a monarquia passasse a respeitar leis. Não com assinaturas em documentos, mas com a decapitação de Carlos I. Um ato que a burguesia nascente foi obrigada a cometer, pressionada pela luta de classes e não pela revolta com impostos altos.
Mas nada disso interessa a nosso herói. Junto com Marion, Robin parte para a floresta, onde não há “impostos, nem dízimos”. Lá, eles podem fazer um pouco de justiça social. A cena final parece comercial de ONG. Cercados por crianças sorridentes, eles cumprem sua missão de roubar dos ricos para dar aos pobres. Só que para isso, é preciso que uns e outros continuem a existir. E esta não é a principal razão de ser de muitas ONGs? Bem classe média.
“Em tempos de tirania e injustiça, quando a lei oprime o povo, o fora-da-lei assume o seu papel na História. Isso aconteceu com a Inglaterra na virada do século 12”. A mensagem que inicia o filme era um dos princípios defendidos pelos burgueses quando surgiram como classe social.
A burguesia atual não gosta de lembrar isso. Em sua maturidade esclerosada prefere esquecer as loucuras da juventude, quando chegou a cortar cabeças coroadas. De qualquer maneira, o princípio refere-se à troca de governos no interior de um Estado de classe, não à extinção do próprio Estado. Este último é o objetivo dos socialistas revolucionários, incluindo os anarquistas. Aquele é o dos que querem manter a exploração de uns sobre os outros, incluindo muitos dos que se dizem socialistas.
No filme estrelado por Russell Crowe, o herói da floresta de Sherwood quase não aparece como o príncipe dos ladrões. Está mais para um barão de classe média. Nem é rei, nem é servo. Só quer um governo justo, não o fim de toda dominação e exploração, base das injustiças cometidas por todo governo.
O filme começa com o retorno de Ricardo Coração de Leão, após 10 anos de ausência. Entre os soldados de sua tropa, está Robin Hood, ainda conhecido como Robin Longstride. Diferente das versões mais conhecidas da história, o rei Ricardo morre logo no início. Durante o assalto a um castelo francês é atingido pela flecha certeira disparada por um cozinheiro. Talvez, uma brincadeira sobre a superioridade gastronômica do inimigo.
Morto o rei, Robin deserta do exército. Pretende cuidar da própria vida. Mas, o destino não deixa. Entre idas e vindas, acaba envolvido no combate a uma conspiração. Um nobre inglês alia-se ao rei da França para conquistar a Inglaterra.
Ao mesmo tempo, conhece Lady Marion (Cate Blanchett). Viúva, ela cuida de sua propriedade sozinha. Passa maus bocados com os impostos reais de um lado e o dízimo da Igreja, do outro. Só falta fazer um discurso sobre o peso da carga tributária. Tudo muito classe média.
Na versão de Scott, o maldoso Xerife de Nottingham fica em segundo plano. O vilão mesmo é Lorde Godfrey (Mark Strong), que colabora com os franceses. Outro vilão é o rei João (Oscar Isaac). Egoísta, maldoso, cheio de ambição e preguiça, ainda tem a péssima idéia de aumentar os impostos para fazer guerra aos franceses. O que deixa os barões furiosos. Querem derrubar o rei. Nem que para isso seja preciso apoiar uma invasão francesa.
São convencidos do contrário por Robin. O inimigo são os franceses, diz ele. Derrotados estes, cuidariam do rei João. E é o que acontece. Em troca de terem livrado o país dos invasores, os barões impõem ao soberano a assinatura de um documento que limita seus poderes. É a famosa Magna Carta, que seria o marco do início da monarquia constitucional inglesa.
Seria mas não foi. João coloca fogo no documento pouco depois de assiná-lo. Compra a maior briga com os barões. Só aí, Robin torna-se o fora-da-lei de que fala a mensagem do início do filme. Veste o capuz (o hood) dos bandoleiros e foge para a floresta.
O fato é que a simples assinatura de um rei nunca garantiu o respeito a direitos plebeus. Na vida real, o rei João não queimou a Magna Carta. Apenas deixou de cumpri-la. Foram necessários mais de quatro séculos até que a monarquia passasse a respeitar leis. Não com assinaturas em documentos, mas com a decapitação de Carlos I. Um ato que a burguesia nascente foi obrigada a cometer, pressionada pela luta de classes e não pela revolta com impostos altos.
Mas nada disso interessa a nosso herói. Junto com Marion, Robin parte para a floresta, onde não há “impostos, nem dízimos”. Lá, eles podem fazer um pouco de justiça social. A cena final parece comercial de ONG. Cercados por crianças sorridentes, eles cumprem sua missão de roubar dos ricos para dar aos pobres. Só que para isso, é preciso que uns e outros continuem a existir. E esta não é a principal razão de ser de muitas ONGs? Bem classe média.
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