"Reportagem do Fantástico denuncia...". Esta é uma expressão cada vez
mais ouvida nos meios de comunicação. As denúncias são muitas. “Analfabetos tinham
acesso à carteira de habilitação em esquema nos Detran...”. “Compra de
explosivos para roubar caixas eletrônicos...”. “Fraudes em concursos públicos...”.
“Esquema de licitações com cartas marcadas ...”. Estes são apenas alguns
exemplos oferecidos pela máquina investigativa do programa dominical da Rede
Globo.
Mas não é só o Fantástico. É o Jornal Nacional, a CBN, Jornal da Band,
jornalões impressos, revistas semanais. Só muda o sujeito da oração e o tipo de
crime que serve de predicado. O verbo é
o mesmo: denúncia ou investigação. Algo
que deveria estar a cargo de órgãos e autoridades públicos. Pela polícia,
Ministério Público e até por parlamentares.
Claro que o jornalismo investigativo é uma das possibilidades da imprensa.
Óbvio que denúncias jornalísticas podem
ajudar a combater corrupção, golpes, roubos, violência, abusos. Mas quando a
grande imprensa começa a aparecer como principal instituição para a apuração de
delitos e crimes, algo está muito errado. Até porque o que é apenas apuração
pode tornar-se facilmente processos sumários de acusação, julgamento e punição.
Na grande maioria das vezes, sem qualquer direito a defesa.
E o que fazem os órgãos de segurança pública enquanto isso? Grande parte de
seus agentes está diretamente envolvida com os próprios crimes que a imprensa
diz investigar. Ou estão ocupados espionando, se infiltrando e reprimindo
violentamente as manifestações populares.
São muito raras as vezes em que policiais, juízes, parlamentares, governantes sofrem
alguma punição séria, mesmo quando vão parar nas capas dos jornais. Já a
punição para lutadores e lutadoras sociais incriminados pela grande imprensa
vem rápida, violenta e discreta.
O fato é que há muito pouco de jornalismo investigativo nessa história toda. As
reportagens são comandadas por grandes corporações da mídia. Elas mesmas
acusadas por vários crimes, principalmente contra a ordem econômica.
Na verdade, o que estamos vendo não passa de uma ação combinada entre os
monopólios da comunicação e os monopólios da violência. Os primeiros tentam se
credenciar como instrumentos de cidadania para melhor defender os interesses
dos poderosos. Os segundos encontram no discurso dos primeiros a justificação
para suas ações covardes e violentas.
No meio, apanhando e sendo criminalizados, estão os movimentos sociais e os
pobres em geral.
19 de out. de 2013
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário